Sempre quis ter um cachorro, mas meus pais são extremamente lunáticos com limpeza e organização, o que não combina com o animal e eu já aceitava que não teria um.
Acontece que um dia meu pai chegou em casa, abriu a porta do carro e aquele ser branco com pintinhas pretas saiu com a cola abanando, correndo e cheirando tudo.
O Fred chegou. Um filhote de dalmata enorme que fazia uma quantidade de bagunça e sujeira proporcional ao seu tamanho, mas que era tolerado pela alegria que proporcionava lá em casa. Até a primeira vez que viajamos e ele ficou sozinho.
A mãe tinha um canteiro de flores imenso debaixo de uma sacada da sala, e foi a primeira coisa que percebemos que não estava mais no lugar quando paramos o carro na frente do portão depois de chegar do litoral. A segunda cena deveria ter sido somente divertida: o Fred apareceu com a cola abanando, mas em vez do branco com pintas pretas, ele era marrom com pintas, de tanto barro que tinha no pelo.
Entramos no terreno e o Fred corria de um lado para o outro, mostrando cada uma das plantas da mãe em um lugar diferente, orgulhoso pela nova arrumação do jardim. Eu já sabia que - um mês depois da chegada - aquele seria o último ato dele ali em casa (ele foi doado, nada de crueldade com os bichos!!!).
Hoje percebo duas coisas graças ao Fred: naquela época ainda não era maduro o suficiente para ser responsável por alguém, já que boa parte da bagunça dele poderia ser evitada com alguns cuidados e; às vezes mesmo que alguém te faça feliz em alguns momentos, você precisa analisar o todo pra ver se o resto não está só causando problemas.
Mas tenho certeza que hoje não falta maturidade e, se o Fred ou algum outro cachorro não durassem um mês não teria como fazer algo diferente. Você pode mudar, esforçar-se para fazer durar, mas em qualquer tipo de relação precisa haver cooperação de quem está envolvido, uma parte não pode fazer tudo sozinho.